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quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

AIDS MATA


Até a década de 90, a proporção entre o número de homens e mulheres infectados com o vírus HIV era bastante desigual. Havia uma mulher soropositiva para cada ...

Transmissão durante gestação e amamentação pode agravar problema


Cilene Brito


Até a década de 90, a proporção entre o número de homens e mulheres infectados com o vírus HIV era bastante desigual. Havia uma mulher soropositiva para cada grupo de 25 homens infectados.
Hoje, a proporção de gênero da epidemia está equilibrada. Para cada dois homens com o vírus, uma é mulher. De acordo com dados da Coordenação Estadual de HIV/Aids, desde o primeiro caso de Aids notificado na Bahia, em 1984, até o último levantamento feito, em 30 de setembro deste ano, foram registrados 7.754 casos de pessoas soropositivas. Dessas, 2.502 são do sexo feminino.
Estima-se que três mil mulheres são infectadas a cada dia em todo o mundo. A maior parte delas (85%) é jovem em idade reprodutiva. Para os especialistas, essa mudança de perfil da epidemia é preocupante devido à possibilidade de transmissão do vírus durante a gestação e amamentação. De acordo com dados do Ministério da Saúde, na faixa entre 19 a 24 anos e nas cidades pequenas, as mulheres são as mais afetadas nos últimos anos.


De acordo com pesquisa do Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (Ibope), as mulheres com relacionamento estável não exigem o preservativo. O principal motivo é a confiança nos parceiros. A diretora do Centro de Referência Estadual de Aids (Creaids), Cristina Camargo, afirma que a feminização da Aids acontece sobretudo devido à vulnerabilidade da mulher na relação.
'A mulher é muito vulnerável na relação. Ela ainda encontra muita dificuldade em negociar o uso de preservativos com o parceiro, seja qual for a sua situação conjugal. Muitas acabam utilizando métodos contraceptivos para se evitar a gravidez, mas esquece de fazer a dupla proteção, para evitar também o contágio de doenças sexualmente transmissíveis', alerta.


De acordo com a especialista, além da feminização, a epidemia também mudou o seu perfil demográfico, avançando para diversas cidades do interior. 'A Aids avançou para as classes mais pobres e locais onde há pouca instrução, o que agrava ainda mais a situação da mulher', salientou. Outro motivo seria a dependência econômica da maioria das mulheres. Ainda há também a questão da iniciação precoce da vida sexual das mulheres, que freqüentemente acontece com homens mais velhos e, portanto mais expostos ao vírus.


Movimento luta contra discriminação
Se as diferenças de oportunidades entre mulheres e homens já é grande, quando elas são soropositivos é ainda maior. 'As portas se fecham para nós. Somos muito mais vítimas de discriminação do que os homens soropositivos', afirmou a coordenadora regional do Movimento Nacional das Cidadãs PositHIVas, Francisca*, 50 anos. Soropositiva há seis anos, ela afirma que a idéia do movimento, criado em 2000 no Brasil, foi de fortalecer a luta das mulheres vítimas do HIV.
Atualmente com cerca de 130 mulheres associadas, o movimento promove encontros mensais nos quais são discutidos temas relacionados aos direitos de soropositivos. Ela afirma, no entanto, que a organização sofre com inúmeras dificuldades e ainda não possui sede própria. 'Não queremos doações, mas sim apoio para nos capacitar. Precisamos nos organizar e fortalecer o movimento', disse.


Por falta de informação, muitas mulheres soropositivas acabam se privando de alguns de seus direitos. Um deles é a garantia do tratamento com AZT durante a gestação para que seja evitada a transmissão vertical (de mãe para filho). 'A mulher não precisa se privar do direito de ser mulher e nem interromper a gestação', afirmou. A especialista salienta que a maioria das mulheres finaliza a gravidez sem realizar a sorologia. O tratamento reduz de 25% para apenas 2% as chances de transmissão do vírus para o bebê. Para evitar a contaminação, a criança deve iniciar o tratamento com xarope de AZT nas primeiras oito horas de vida e dar prosseguimento nos próximos seis meses.